O Que Pensar sobre a Evolução Teísta?

Apesar de suas afirmações altissonantes, a Evolução Teísta não consegue fornecer respostas bíblica às perguntas sobre as origens,

de Dr. Terry Mortenson em Maio 17, 2022 ; último destaque Janeiro 9, 2024
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A discussão sobre o debate entre criacionistas e evolucionistas tem se tornado muito mais intensa ao longo dos últimos anos, mas não nos círculos mais óbvios. Faz sentido que o debate se torne cada vez mais intenso entre o mundo e a Igreja, mas não é aí que as chamas de controvérsia ardem com mais intensidade. Elas estão sendo alimentadas pelos próprios membros dos círculos evangélicos. Além dos muitos que exigem que os cristãos aceitem as diversas expressões da teoria da evolução, também há alguns que afirmam que Adão e Eva foram produtos da evolução de símios, ou que eles nem existiram. Essas são as questões abordadas nos debates sobre a evolução teísta.

O leitor precisa recordar dois pontos importantes ao dialogar com outros sobre o assunto. Em primeiro lugar, é necessário verificar que o termo evolução teísta está sendo usado com precisão. Infelizmente, diversos grupos que participam dessa discussão usam uma linguagem intencionalmente ambígua. Alguns deles (que talvez acreditem em Deus) acreditam plenamente que os humanos evoluíram de símios e que o universo começou a existir com o big bang há 14 bilhões de anos, mas diriam com toda a convicção que não são evolucionistas teístas.

Em segundo lugar, ao dialogar com aqueles que defendem noções evolucionistas, é necessário investigar minuciosamente o que eles querem dizer com os termos que empregam (por exemplo, evolução teísta, Design Inteligente, e outros). Essa investigação deve ser feita com amor e sem preconceitos baseados em experiências prévias (vide 2 Timóteo 2:24-26).

Definição de Termos

Não há dúvida de que o termo evoluçãov pode significar diversas coisas em função do contexto. Embora seja importante definir os termos usados nesta discussão, muitos cristãos que acreditam em noções evolucionistas usam outros termos que devem ser sondados por meio de perguntas específicas. Em um extremo está uma noção de um papel quase deísta de Deus na natureza, e no outro a noção de um Deus que constantemente aprimora Sua criação ao longo de bilhões de anos, a fim de levar a cabo os Seus propósitos. Uma forma muito simplificada de entender a teoria da evolução é visualizá-la como um processo no qual as mudanças ocorrem durante longos períodos de tempo (por exemplo, centenas de milhares, ou até milhões de anos). No entanto, normalmente a questão da evolução é abordada de forma unidimensional - somente a dimensão biológica é tratada. Eu gostaria de ampliar essa discussão para incluir todos os 3 tipos básicos da evolução: a evolução cosmológica, a evolução geológica e a evolução biológica (vide a tabela abaixo).1

Aqueles cujos pontos de vista se encontram em algum ponto deste contínuo geralmente concordam com os seguintes princípios: 1) o universo tem uma idade de aproximadamente 14 bilhões de anos; 2) o big bang explica a origem do universo; 3) a terra começou a formar-se gradualmente há 4,5 bilhões de anos; 4) a vida evoluiu na terra conforme houve interação entre as substâncias químicas, formando o primeiro organismo “vivo”; finalmente, 5) com o tempo, os organismos se tornaram cada vez mais complexos; assim, todos os organismos vivos na terra atual são descendentes do mesmo antepassado. É claro que entre aqueles que defendem esses princípios há alguns que diriam que Deus guiou todos esses processos (seja qual for o grau de Sua intervenção direta), mas continuam acreditando que o planeta tem uma idade de bilhões de anos e que a vida progrediu através de um processo gradual até alcançar a complexidade e variedade que vemos hoje.

Com isso em mente, e cientes de que muitos não concordariam com esta descrição específica, nossa definição de um evolucionista teísta é uma pessoa que acredita que Deus interveio de forma providencial em algum ponto (ou pontos) da história a fim de produzir o mundo que vemos hoje. O único ponto de desacordo é o grau de Sua participação direta nesse processo. Alguns sugerem que, embora a evolução cosmológica e geológica tenha ocorrido de forma mais “natural”, o papel de Deus foi mais íntimo na evolução biológica. Mas, em última análise, todos os pontos de vista defendem a noção de algum tipo de evolução.

O Contínuo da Evolução Teísta
Cosmológica
O Big Bang
13,7 Bilhões de Anos
A Evolução Estelar
Deus causou o big bang e em seguida deixou que os processos naturais formassem o universo, sem intervenção alguma. Deus guia continuamente os processos que formam o universo.
Geológica
A Hipótese Nebular
4,5 Bilhões de Anos
A Extensão e Caráter do Dilúvio
Deus deixou a terra formar-se lentamente por meio de processos naturais não guiados. Deus guia continuamente os processos que formam o planeta.
Biológica
A Origem da Vida
Novas Espécies
O Homem
Deus deixou a vida formar-se gradualmente por meio de processos naturais não guiados. Deus cria de forma especial certas formas de vida ou certas características em diversas etapas da evolução.

O Jogo dos Nomes: O Que Há em um Nome?

Evolução teísta, criacionismo da terra antiga, criação evolucionária, BioLogos, criação progressiva e Design Inteligente - todos são nomes usados por grupos interessados em promover uma ou outra forma da teoria da evolução. Deve-se reconhecer que é difícil categorizar cada perspectiva individual, dando-lhe seu próprio título ou descrição. Mesmo aqueles que escolhem para si mesmos suas próprias designações interpretam as questões ligadas às origens de acordo com matizes muito sutis.

Um criacionista bíblico que quer conversar sobre essas ideias com outros deve mostrar amor por eles, fazendo perguntas sinceras cujo objetivo é entender suas perspectivas individuais. Peça àqueles que acreditam nessas ideias que mostrem como as Escrituras apóiam seus argumentos. Os criacionistas bíblicos também devem estar dispostos a fazer o mesmo para defender suas próprias crenças. O criacionista bíblico não deve presumir automaticamente que todos aqueles que se identificam como evolucionistas pensam que Jesus não nasceu de uma virgem, ou que Adão e Eva são figuras alegóricas.

Evolucionismo Teísta/Criacionismo Evolucionista

Muitas pessoas preferem se identificar como “evolucionistas teístas”. Eles acreditam abertamente que Deus usou os processos da evolução para criar o universo - começando com o big bang, e continuando com a criação do ser humano e do Grand Canyon. Tem-se publicado livros com títulos como: Thank God for Evolution (Agradeça a Deus pela Evolução), Finding Darwin’s God (Encontrando o Deus de Darwin), I Love Jesus and I Accept Evolution (Eu Amo Jesus e Aceito a Evolução) e Evolutionary Creation (A Criação Evolucionária), entre outros. Nos últimos anos, muitos notáveis líderes evangélicos populares (aí incluídos Bruce Waltke, Tim Keller, Francis Collins, Peter Enns, Joel Hunter, Os Guiness e muitos outros) têm adotado resolutamente perspectivas evolucionistas.

Mais recentemente, a Fundação BioLogos tem lançado a campanha de divulgação mais agressiva de ideias evolucionistas. Essa organização foi criada pelo geneticista proeminente Francis Collins, que também é um cristão professo. Dennis Vanema, um dos escritores que regularmente contribui artigos no site de BioLogos, fez a seguinte explicação útil das distinções existentes entre as diversas teorias sobre as origens:

Apesar de suas (grandes) diferenças, [Criacionismo de Terra Jovem, Criacionismo de Terra Antiga e Design Inteligente] negam algum aspecto da ciência moderna. A única perspectiva cristã com relação às origens que aceita plenamente a ciência convencional é a perspectiva da Criação Evolucionária / Evolução Teísta. Essa perspectiva insiste que a ciência não é um inimigo a ser resistido, mas um meio para entender alguns dos mecanismos que Deus tem usado para produzir a biodiversidade na terra. É uma perspectiva que aceita a noção de que o ser humano tem o mesmo antepassado que todas as outras formas de vida, e que a nossa espécie surgiu na forma de uma população, e não através de um único casal primário. Existem perspectivas diferentes dentro da comunidade CE quanto à existência de um casal histórico chamado Adão e Eva; alguns acreditam que ele realmente existiu, e que esses dois indivíduos foram escolhidos por Deus como representantes entre uma população maior. Outros membros da comunidade CE consideram que Adão e Eva são figuras tipológicas, como uma representação da falta de cumprimento de Israel da aliança. A ciência (a genética de populações humanas) mostra claramente que nossa espécie surgiu na forma de uma população, e esse é o meu foco (uma vez que é a minha área de especialização). Embora eu tente não me envolver em discussões teológicas, as pessoas com frequência querem falar sobre estes pontos usando uma abordagem teológica, e não científica.2

Aqueles que estão ligados à Fundação BioLogos procuram fomentar discussões sobre o relacionamento entre a ciência e a fé cristã. No entanto, eles rejeitam que a Bíblia seja a fonte autoritária para entender o mundo natural. Eles afirmam: “Encontramos que os métodos usados nas ciências naturais são a guia mais confiável para entender o mundo material, e a evidência apresentada atualmente pela ciência mostra que a melhor forma de explicar a diversidade da vida é entendê-la como o resultado de um processo evolucionário. Portanto, afirmamos que a evolução é um meio usado por Deus de forma providencial para levar a cabo os Seus propósitos”.3

Diante de tais afirmações, poderia se pensar que esses acadêmicos nem consideram a Bíblia como uma autoridade; no entanto, mais tarde no mesmo documento de BioLogos encontramos a seguinte afirmação: “Um aspecto fundamental da visão de BioLogos é a crença de que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada e autoritativa. A Bíblia é um documento vivo pelo qual Deus, por meio de seu Espírito, continua a falar à igreja hoje”.4 Diante dessa afirmação, seria inteiramente justo perguntar aos autores o que eles querem dizer com a palavra “autoritativa”. Aliás, um aspecto importante de discutir essas ideias com aqueles que têm uma perspectiva evolucionista do universo é fazer esse tipo de perguntas.

Duas das ideias mais polêmicas entre a comunidade criacionista evolucionista são a identidade (ou até mesmo a historicidade) de Adão e Eva e o caráter da Queda. Alguns insistem em que Adão e Eva foram pessoas reais que realmente foram os antepassados de todos os humanos. Outros dizem que foram dois dos membros da população de humanos evoluídos que foram escolhidos por Deus como representantes da humanidade. Para outros, o texto de Gênesis não exige a existência de um Adão real; assim, eles lhe atribuem um significado alegórico ou simbólico.5 Ligada à questão da historicidade de Adão é a questão de se a Queda foi um evento real ou algum tipo de alegoria cujo propósito era explicar a condição humana. A existência de tais diferenças são outra razão para os criacionistas bíblicos fazerem perguntas com amor ao dialogarem com cristãos que acreditam na evolução teísta.

Um Design Inteligente sem Designer

Talvez seja uma surpresa para alguns o fato de muitos defensores do movimento conhecido como Design Inteligente (DI) poderem ser descritos como evolucionistas teístas. Muitos daqueles que participam do movimento DI acreditam no big bang, numa terra antiga e nos conceitos gerais de progresso evolucionário com o tempo. Eles rejeitam a noção darwiniana (ou neo-darwiniana) da evolução por ser um processo aleatório que carece de qualquer objetivo ou propósito, mas acreditam numa espécie de evolução guiada. Embora cheguem à conclusão de que certos aspectos dos sistemas biológicos mostram uma “complexidade irredutível”, também sugerem que nesses aspectos Deus teria guiado o processo de evolução, o que teria permitido que o processo produzisse novos tipos de organismos.

Não existe um consenso entre os defensores que fazem parte do movimento DI quanto à explicação do surgimento do homem. Alguns sugerem que o progresso gradual produziu um hominídeo avançado que Deus usou para dar início à raça humana ao introduzir um espírito nessa criatura. Outros dizem que Deus de fato criou Adão de forma especial do pó, e que Eva realmente foi mãe de todos os seres vivos. Alguns dos personagens mais populares dentro do movimento DI têm exposto as suas opiniões claramente, enquanto outros parecem ocultar suas ideias numa linguagem ambígua que apela para uma audiência diversa.

Michael Behe fez a seguinte afirmação em uma entrevista com a revista World: “Quando estudamos humanos que têm a mesma doença genética (por exemplo, anemia falciforme), com frequência podemos identificar a origem numa única mutação de algum antepassado humano. Aplicando certas conjecturas, podemos aplicar a mesma lógica ao relacionamento que há entre as espécies. Os humanos compartilham com outras espécies primatas o que evidentemente são os mesmos acidentes genéticos. A hipótese de eles terem sido herdados de um antepassado comum explicaria porque todos nós os temos hoje. Para mim, isso é um argumento persuasivo”.6 Behe continua sendo um evolucionista, apesar de ele rejeitar o caráter aleatório do neo-darwinismo. Em certa palestra numa conferência em 2010, Behe deu a seguinte resposta a uma das perguntas: “Eu acredito, sim. Acredito na evolução não darwiniana, no sentido em que eu acho que a evolução ocorreu. E acredito nisso porque acho que é pelo menos uma explicação razoável das semelhanças entre as criaturas”.7

Da mesma forma, William Dembski tem afirmado recentemente que a evolução é compatível com a explicação das origens dada na Bíblia, inclusive a possibilidade de a humanidade ter vindo de uma espécie de hominídeos evoluídos (dentro do qual Deus teria introduzido um espírito para torná-lo verdadeiramente humano). No seu livro The End of Christianity, ele propõe uma explicação da existência de morte e do sofrimento antes do pecado de Adão, a fim de poder acomodar o mal natural dos processos evolucionários.8 Em outras palavras, Demski tem afirmado que acredita pessoalmente que Adão e Eva foram criados por Deus de forma especial, e que embora ele rejeite a noção darwiniana da evolução, ele acredita que a idade da terra seja de bilhões de anos.9 Há muitos outros líderes do movimento DI que subscrevem às hipóteses do big bang, da evolução geológica, e de alguma forma de evolução biológica. A complexidade desses temas entrelaçados deveria realçar a necessidade de refletir de forma cuidadosa e orar muito sobre como conversar cordialmente sobre eles com outros cristãos.

Ao refletir sobre o movimento de Design Inteligente, também é importante pensar sobre a identidade do designer, uma vez que o movimento não faz afirmação alguma sobre isso. Entre os líderes proeminentes do movimento estão católicos romanos, evangélicos, protestantes, membros da Igreja da Unificação e outros. Apesar de os indivíduos que formam parte do movimento indicarem quem eles pensam que seja o criador, o objetivo do movimento DI não é propor um designer específico. Por isso, o movimento tem sido endossado por indivíduos da tradição cristã no seu sentido mais abrangente, e inclusive por mulsumanos. Aliás, seus argumentos poderiam ser usados por qualquer religião que acredita em alguma espécie de “poder superior”.

O movimento tem produzido alguns argumentos científicos que apoiam o que já foi revelado nas Escrituras, mas do ponto de vista teológico, o seu caráter abrangente é problemático. Embora haja pouca discordância quanto à natureza da evolução cosmológica e geológica, não existe nenhum consenso quanto à quantidade de alterações que seria permissível na evolução biológica. Mas o que é mais preocupante é o fato de uma pessoa poder depositar sua confiança em Jesus, Alá ou até no reverendo Moon e participar de forma ativa do movimento DI.10

Criacionismo Progressivo

A terceira perspectiva básica é uma que muitas pessoas normalmente não colocariam na categoria do evolucionismo teísta. Esta perspectiva, conhecida como “criacionismo progressivo”, propõe uma espécie de criacionismo do dia-era, segundo o qual os dias referidos em Gênesis 1 representam longos períodos de tempo sobrepostos. O defensor mais destacado da ideia é Hugh Ross, da organização Razões para Crer. Os criacionistas progressivos geralmente aceitam que o big bang é a explicação da origem do universo, que a terra foi formada lentamente a partir de fragmentos de matéria que orbitavam o sol e que a terra tem 4,5 bilhões de anos de idade. No entanto, eles rejeitam que a evolução biológica seja a explicação da história da vida na terra. Por isso, o criacionismo progressivo normalmente não é incluído no âmbito da evolução teísta. Os defensores do criacionismo progressivo também não concordariam com o ponto 5 da minha descrição acima. No entanto, decidi incluir o criacionismo progressivo nesta discussão devido aos aspectos da evolução cosmológica e geológica que ele aceita.

Apesar de esta perspectiva ser conhecida como “criacionismo de terra antiga” ou “criacionismo do dia-era”, ela ainda depende dos modelos do big bang / hipótese nebular e dos métodos de datação radiométrica para determinar a idade da terra. De acordo com esta teoria, em vez de usar mudanças biológicas graduais ao longo dos bilhões de anos, Deus teria criado organismos em etapas progressivas, deixando que as formas anteriores se extinguissem. Assim, o registro fóssil mostra o surgimento de organismos plenamente formados, uma vez que Deus os teria criado em diversos pontos ao longo da história, exterminando-os em grandes eventos de extinção. Quanto à humanidade, Adão e Eva teriam sido humanos verdadeiros que foram criados por Deus há aproximadamente 100.000 anos, os pais de todos os humanos, embora também tenham existido hominídeos antes da criação do homem.

A Visão do Livro de Gênesis

Muitos artigos (e até livros inteiros) já foram escritos sobre as diversas interpretações dos capítulos 1-11 de Gênesis.11 No entanto, aqueles que decidem adotar uma perspectiva evolucionista do universo, precisam rejeitar uma leitura simples e direta do livro de Gênesis. De acordo com sua interpretação desses capítulos, os dias mencionados em Gênesis 1 se referem a longas eras que (de acordo com algumas versões) são sobrepostas, de modo que o dia 3 realmente começa depois do dia 4. Alguns, em vez de aceitar essas noções de dia-era, colocam um espaço entre Gênesis 1:1 e Gênesis 1:2, e logo procuram fazer encaixar o resto do conteúdo em Gênesis 1 em 6 dias normais. Outros sugerem que a passagem inteira se trata de uma espécie de lenda, mito ou alegoria que transmite verdades sobre a origem da humanidade ou de Israel, mas não deve ser considerado um relato de fatos reais sobre as datas ou condições dessa história.

É óbvio que é impossível deduzir de uma leitura simples e direta de Gênesis 1-2 uma história evolucionista do universo parecida com aquela na qual muitos cristãos acreditam atualmente. Aliás, as contradições entre a sequência dos eventos descritos em Gênesis e a explicação evolucionista dos eventos que formaram o universo que conhecemos hoje são tantas e tão gritantes que, para resolvê-las, parece impossível não desprezar ou distorcer o texto a fim de fazê-lo concordar com os diversos processos evolucionários.12

A seguinte tabela apresenta algumas das divergências com o texto bíblico que devem ser resolvidas a fim de adotar uma perspectiva evolucionista. Muitas pessoas nunca pensaram sobre estas contradições; portanto, elas são um ponto de discussão importante para criacionistas bíblicos que querem dialogar com cristãos que têm opiniões evolucionistas.

A História de Acordo com a Evolução O Relato de Gênesis
O sol e forma antes da terra A terra já existe antes do sol
Os mamíferos terrestres aparecem antes das baleias As baleias são criadas antes dos animais terrestres
A terra começa como uma massa de pedra derretida que não contém água A terra começa com água
Os répteis evoluem antes das aves As aves são formadas antes dos répteis
Os cardos e espinhos evoluem antes do homem Os cardos e espinhos são resultados do pecado do homem

Que autoridade?

Há uma pergunta muito importante que devemos fazer ao pensar sobre o relacionamento que existe entre as perspectivas evolucionistas do mundo e o texto bíblico. Para ser justos, devemos reconhecer que todos os grupos mencionados neste capítulo afirmariam que a Bíblia é autoritativa. No entanto, assim como os criacionistas bíblicos precisam fazer perguntas sobre a definição precisa da palavra evolução, também precisam perguntar o que a palavra autoritativo significa cada vez que ela é usada. Qual é considerada a autoridade em cada um desses exemplos, a Bíblia ou a interpretação dada pela “ciência convencional”?

De um ponto de vista exegético e teológico, a adoção da solução da terra jovem para reconciliar a ordem da criação com a história natural faz muito sentido. Aliás, houve um consenso imenso quanto a essa perspectiva até a época da Reforma Protestante. Eu também a adotaria imediatamente se a natureza não parecesse apresentar evidências tão contundentes contra ela. Não sou, de longe, a única pessoa avessa a aceitar o criacionismo de terra jovem.13

Nesse exemplo, o Dr. Dembski usa a palavra natureza para se referir à interpretação naturalista dos dados (o que provavelmente inclui o método da datação radiométrica) que chega à conclusão de que a idade da terra é de bilhões de anos. Mais tarde no mesmo livro ele faz a afirmação de que as pessoas “estudam a ciência para entender [o Livro da Natureza], e teologia para entender [o Livro das Escrituras]”. Em seguida, Dembski explica como as Escrituras podem mudar o nosso entendimento da ciência, e como a ciência pode mudar as Escrituras. Ele afirma que “para podermos rejeitar a noção de uma terra antiga (ensinada pelo Livro da Natureza) precisamos ter uma sólida evidência científica”.14

Como é evidente na declaração acima, o Dr. Vanema acredita que “a ciência (genética das populações humanas) mostra claramente que nossa espécie surgiu na forma de uma população”, e não como dois indivíduos. De acordo com modelos de população recentes produzidos pela “ciência convencional” houve aproximadamente 10.000 humanos, e não dois. Do ponto de vista da ciência moderna, é inconcebível pensar que um casal de duas pessoas reais tenha fundado a humanidade.

Podemos presumir que todos os que escrevem e trabalham para a Fundação BioLogos estão de acordo com a afirmação feita na página que contém uma explicação da posição adotada pela fundação:

Encontramos que os métodos usados nas ciências naturais são a guia mais confiável para entender o mundo material, e a evidência apresentada atualmente pela ciência mostra que a melhor forma de explicar a diversidade da vida é entendê-la como o resultado de um processo evolucionário. Portanto, afirmamos que a evolução é um meio usado de forma providencial por Deus para levar a cabo os Seus propósitos.15

Do ponto de vista de qualquer evolucionista teísta, sem importar o tipo específico ou a importância do papel que a evolução desempenha em seu sistema, a habilidade humana de interpretar os dados encontrados nas camadas de pedra e nos padrões das nuvens gasosas encontradas no universo claramente prevalece contra as ideias contidas numa leitura simples e direta dos capítulos 1-11 de Gênesis. Os seis dias devem representar algo que não seja dias; Adão e Eva não são necessariamente pessoas reais; a Queda deve ser algum tipo de alegoria, uma vez que podemos confiar na ciência da genética das populações humanas para nos explicar a verdadeira origem do homem. Não obstante tudo isso, é importante que os cristãos acreditem que Jesus ressuscitou dos mortos, e que Ele morreu pelos seus pecados. Embora a Bíblia não seja confiável quando fala sobre astronomia, antropologia, geologia e biologia, com certeza ela é confiável quando fala sobre a necessidade que a humanidade tem de um Salvador.

Mas será mesmo assim?

Quando deixamos de lado a autoridade que a Bíblia deveria exercer sobre cada área das vidas dos crentes, inclusive com respeito a como eles pensam sobre a história do mundo, fazemos do homem e sua forma de pensar sobre o mundo a medida de todas as coisas. Se Deus realmente não explicou como Ele criou o universo; se Adão e Eva foram meros representantes dos hominídeos; se a morte, os espinhos e os cardos sempre existiram antes do pecado . . . por que os crentes devem considerar a Bíblia como a autoridade moral em suas vidas, ou por que devem confiar no que ela afirma sobre o que acontecerá no futuro? Esses são os tipos de perguntas que devemos responder quando deixamos que a “ciência convencional” se torne a autoridade nessas questões. Existe uma ligação importante entre a forma em que Deus criou o universo, a forma em que o homem caiu no pecado, o caráter do Dilúvio e o evangelho de Jesus Cristo - o que Deus realmente disse sobre esses temas?

Os criacionistas bíblicos que querem dialogar sobre esse assunto com outros na Igreja precisam mostrar amor, e também basear seus argumentos firmemente nas Escrituras. Precisam reconhecer que até mesmo grandes e piedosos homens de Deus podem cometer erros - e eles mesmos podem cometê-los. Pense em quando Pedro negou que Cristo morreria na cruz (Mateus 16:23) ou em sua hipocrisia diante dos judeus (Gálatas 2:11-13). Foi através da proclamação da verdade e a obra do Espírito Santo que Pedro foi capaz de se arrepender dessas ações e pensamentos. E a mesma verdade e Espírito ajudará cada crente a se tornar mais como Cristo. Isso deve ser o objetivo final de cada crente que procura dialogar com outros crentes sobre a relação entre a visão evolucionista do mundo e a visão bíblica do mundo.

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Footnotes

  1. A evolução cosmológica geralmente considera que o suposto big bang tenha sido o início original do universo, e que as estrelas e os sistemas planetários teriam se formado lentamente ao longo de bilhões de anos. A evolução geológica se refere à formação das características geográficas da terra ao longo de bilhões de anos. A evolução biológica se refere à origem da vida, e o desenvolvimento de todas suas formas (vivas e extintas) a partir de um único organismo unicelular.
  2. Dennis Venema, “Ask an Evolutionary Creationist: A Q&A with Dennis Venema,” http://biologos.org/blog/ask-an-evolutionary-creationist-a-qa-with-dennis-venema.
  3. BioLogos, “About the BioLogos Foundation,” http://biologos.org/about.
  4. Ibid.
  5. Para uma discussão mais detalhada desse tema, leia o capítulo 20.
  6. Marvin Olasky, “Darwin Slayer,” World (July 21, 2007): p. 16.
  7. Michael Behe, “Q&A: Intelligent Design/Theistic Evolution” (lecture, Fixed Point Foundation, In the Beginning Conference, Birmingham, Alabama, June 18, 2011).
  8. William Dembski, The End of Christianity (Nashville, TN: B&H Pub. Group, 2009). Apesar da afirmação de Dembski de que ele não tem nenhuma pressuposição sobre a idade da terra ou a extensão da evolução ou do design (p. 10), em vários trechos ele nega a hipótese de uma terra jovem, adotando o que já foi demonstrado pela “ciência” (p. 53 ss.). Ele afirma que a evolução, inclusive a evolução de hominídeos (que Deus teria transformado em humanos) é uma hipótese que deveria ser considerada consistente com a Bíblia.
  9. Por exemplo, em uma entrevista com o site The Best Schools, o Dr. Dembski explicou que ele aceita a noção de um universo antigo, mas rejeita qualquer explicação estritamente darwiniana do desenvolvimento da vida na terra (https://billdembski.com/interview/bill-dembski-interview/).
  10. Para mais informações sobre o caráter problemático do movimento DI, consulte Georgia Purdom, “Is the Intelligent Design Movement Christian?” em Ken Ham, editor, The New Answers Book 2 (Green Forest, AR: Master Books, 2008).
  11. Para mais artigos sobre esta diversidade de perspectivas, veja a página “Get Answers: Creation Compromises” no link ""http://www.answersingenesis.org/get-answers.
  12. Terry Mortenson, “Evolution vs. Creation: The Order of Events Matters!” Answers in Genesis, http://www.answersingenesis.org/articles/2006/04/04/order-of-events-matters.
  13. Dembski, The End of Christianity, p. 55.
  14. Ibid., p. 71-77.
  15. BioLogos, “About the BioLogos Foundation,” http://biologos.org/about.

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