Publicado em The New Answers Book 2
Cristãos são muitas vezes questionados acerca de Satanás - quem ele é, quem o criou, quando ele foi criado?
Estas e outras perguntas semelhantes, são perguntas válidas. A fim de respondê-las, precisamos considerar cuidadosamente o que a Bíblia diz, uma vez que ela é a única fonte de informação plenamente confiável sobre Satanás. A Bíblia não dá muita informação sobre Satanás ou os anjos, mas dá informação suficiente para responder a algumas dessas perguntas.
A Palavra de Deus é infalível e a autoridade absoluta, e precisamos manter uma atitude de desconfiança sobre as conclusões tiradas de fontes extra-bíblicas, como as ideias ou tradições humanas. Consideremos o que a Bíblia diz sobre essas questões.
A primeira vez que o nome Satanás é usado, é em 1 Crônicas 21:1. Cronologicamente, Jó, que foi escrito muito antes, precede essa referência. Satanás aparece constantemente em Jó 1 e 2. Satanás, literalmente, significa “adversário” em hebraico.
Há um outro nome que aparece no Antigo Testamento, na versão Almeida Corrigida Fiel:
Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! (Isaías 14:12; ACF).
Essa é a única passagem que usa o nome Lúcifer para se referir a Satanás. Esse nome não vem do hebraico, mas do latim. Talvez essa tradução para o português tenha sido influenciada pela Vulgata, que usa esse nome. Em latim, Lúcifer significa “portador de luz”.
A palavra em hebraico é heylel e significa “portador de luz”, “brilhante” ou “estrela da manhã”. Muitas traduções modernas traduzem essa palavra como estrela da manhã. Nessa passagem, heylel se refere ao rei da Babilônia e, figuradamente, a Satanás. Certamente, Jesus reivindica esse título em Apocalipse 22:16. Apesar da passagem em Apocalipse ser em grego, enquanto a passagem em Isaías é em hebraico, ambas são traduzidas semelhantemente.
Alguns acreditam que Lúcifer era um nome celestial ou angelical que Satanás perdeu quando se rebelou. A Bíblia não declara isso explicitamente, mesmo que Satanás não seja chamado de Lúcifer em nenhum outro lugar da Bíblia, mas seja chamado de outros nomes, como diabo, Satanás, etc. Essa tradição pode ter algo de verdadeiro, apesar de que essa ideia pareça perder de vista que esse versículo (de Isaías) se refira a Satanás durante e após sua queda - não antes dela. Já que outras passagens das Escrituras se refiram a ele como Satanás, Lúcifer não era necessariamente seu nome antes da queda, tanto quanto Satanás não teria sido.
Mesmo que Satanás seja primeiramente mencionado em Jó, relatos históricos anteriores registram suas ações (veja Gênesis 3, quando Satanás influenciou a serpente, e Gênesis 4, em que Caim era do maligno [1 João 3:12]).
No Novo Testamento, outros nomes revelam mais sobre a natureza atual de Satanás. Diabo (diabolos) significa “falso acusador, Satanás, caluniador” em grego e é a palavra da qual a palavra diabólico é derivada. Satanás é chamado de dragão em Apocalipse 12:9 e 20:2, assim como “o maligno” em outros lugares. Apocalipse 12:9 o chamada de “a antiga serpente” e Mateus 4:3 o chama de “tentador”. Outros nomes de Satanás são: Abadom (destruição), Apoliom (destruidor - Apocalipse 9:11), Belzebu (Mateus 12:27) e Belial (2 Coríntios 6:15). Satanás também é chamado de deus deste mundo/século (2 Coríntios 4:4), príncipe deste mundo (João 12:31) e pai da mentira (João 8:44).
Satanás é mencionado junto com os anjos (Mateus 25:41; Apocalipse 12:9) e os “filhos de Deus” (Jó 1:6, 2:1), que muitos acreditam ser uma referência a anjos. Apesar de nenhuma passagem da Bíblia declarar que ele, originalmente, fosse um anjo, ele é chamado de querubim em Ezequiel 28:16. O significado de querubim é incerto, mas normalmente acredita-se tratar de um ser angelical ou celestial. (Ezequiel 28 será tratado em maior detalhes depois).
Em 2 Coríntios 11:14 (ACF), lemos que Satanás se apresenta como um anjo de luz - outra alusão a sua condição de ser angelical:
E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz.
Apesar de ser possível que Satanás tenha sido um anjo, seria melhor dizer que ele, originalmente, fazia parte dos “exércitos celestiais" (o que incluiria anjos), uma vez que sabemos que ele veio do céu, mas não sabemos com certeza que ele realmente era um anjo. Lembre-se de Isaías 14:12 (ACF):
Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações!
Quando Satanás, o grande dragão de Apocalipse 12:9, caiu, parece que ele levou consigo um terço dos exércitos celestiais (“a terça parte das estrelas do céu” foi arrastada à terra por sua cauda - Apocalipse 12:4). Sabemos que os anjos que caíram não tem nada de bom a esperar:
Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. (Mateus 25:41; ACF).
Porque, se Deus não poupou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo. (2 Pedro 2:4; ACF).
O que estas passagens não dizem, é quem e de onde os anjos e Satanás eram.
E se engrandeceu até contra o exército do céu; e a alguns do exército, e das estrelas, lançou por terra, e os pisou. (Daniel 8:10; ACF).
Daniel está falando dos exércitos celestiais e dos anjos, os quais, frequentemente, são chamados de estrelas ou luminares (veja Juízes 5:30; Daniel 8:10; Judas 13; Apocalipse 1:20). É improvável que essa passagem se refira a estrelas físicas, pois estas destruiriam a terra. A palavra hebraica para estrelas (kowkab) também inclui planetas, meteoros e cometas. Será que essas estrelas eram cometas e meteoros? Provavelmente não, uma vez que o contexto se refere a seres celestiais, que seriam pisoteados. Essa é mais uma confirmação de que Satanás (e talvez ainda outro ser celestial) e seus anjos pecaram e caíram.
Outra passagem crucial em relação a isso, é Ezequiel 28:15-17 (abordada em maiores detalhes mais tarde). Essa passagem indica que Satanás realmente era perfeito antes de sua queda. Ele estava no céu e foi lançado à terra.
A Bíblia não fornece o momento exato da criação ou da queda de Satanás, mas dá algumas dicas. Paulo diz, em Colossenses, que Deus/Cristo criou todas as coisas:
Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. (Colossenses 1:16; ACF).
Então, logicamente, Satanás foi criado, assim como foi o “céu dos céus”. Já descobrimos que, antes de sua queda, Satanás estava no céu. Então, a pergunta que se segue é quando o céu dos céus foi criado.
A Bíblia usa a palavra céu de diversas maneiras. A primeira menção é feita em Gênesis 1:1:
No princípio criou Deus os céus e a terra.
A palavra hebraica para céus é plural (forma dual): shamayim, dual do singular (que não é usado) shameh. Esta palavra significa “céu, céus, céu visível, morada das estrelas, universo, atmosfera” e “a morada de Deus”. O contexto ajuda a determinar o significado de uma palavra em particular. Apropriadamente, céus é plural e muitos eruditos e tradutores da Bíblia o traduziram apropriadamente dessa forma.
Portanto, parece ser correto presumir que “o céu dos céus” foi criado junto com os céus físicos (o contínuo tempo-espaço, ou seja, o universo físico, onde as estrelas, o sol e a lua habitariam após serem criados no quarto dia) durante a semana da criação.
A definição da palavra grega para céu(s) (ouranos) é parecida: “a expansão da abóbada celestial, incluindo todas as coisas visíveis; o universo, o mundo; o céu, a região onde as nuvens e as tempestades se formam, e onde o trovão e o relâmpago são produzidos; o espaço sideral ou os céus estrelados; a região acima do espaço sideral, a sede da ordem das coisas eternas e totalmente perfeitas, onde Deus e outros seres celestiais habitam.”
Pelo uso da palavra, isso incluiria o céu dos céus. Contudo, outras passagens bíblicas também ajudam a responder à pergunta se o céu dos céus foi criado.
Só tu és Senhor; tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto neles há, e tu os guardas com vida a todos; e o exército dos céus te adora. (Neemias 9:6; ACF).
Faz-se uma clara distinção entre pelo menos dois céus - os céus físicos e o céu dos céus. Os céus físicos incluem a expansão criada no segundo dia, o lugar no qual as estrelas foram colocadas, no quarto dia, e a atmosfera (pássaros são chamados de criaturas “do ar” ou “dos céus”, por exemplo em 1 Reis 14:11; Jó 12:7; Salmo 104:12). O céu dos céus é a residência dos exércitos celestiais, dos anjos e assim por diante. Parece que esse é o terceiro céu que Paulo menciona:
Conheço um homem em Cristo que há catorze anos (se no corpo, não sei, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao terceiro céu. (2 Coríntios 12:2; ACF).
A passagem de Neemias indica que Deus criou os céus; eles não são infinitos como Deus é. Então a pergunta que se faz é: quando foram criados?
Uma vez que o céu dos céus é mencionado em relação à terra, ao mar e ao céu físico, podemos presumir com confiança que eles foram todos criados no mesmo período - durante a semana da criação. A criação do céu dos céus não ocorreu no sétimo dia, uma vez que Deus descansou de todas as Suas obras de criação naquele dia. Então, deve ter ocorrido em algum dos 6 dias anteriores.
E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom; e foi a tarde e a manhã, o dia sexto. Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. (Gênesis 1:31-2:1; ACF).*
Tudo o que Deus criou, seja na terra, no céu, no mar ou nos céus, era “muito bom”. Isso incluía o céu dos céus e Satanás e os anjos? Certamente! A palavra é dirigida a Satanás, em Ezequiel 28:15 (ACF):
Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti.
Esta passagem declara que Satanás era perfeito; consequentemente ele era originalmente muito bom. Assim, faria sentido presumir que o céu dos céus também recebeu este dizer abençoado, uma vez que isso foi dito a respeito de Satanás. Na verdade, é isso que esperaríamos de um Deus que é todo-bom - uma criação muito boa. Deuteronômio 32:4 declara que todas as obras de Deus são perfeitas. Então, o céu dos céus, Satanás e os anjos eram muito bons em sua origem.
Ezequiel 28:15 diz: “desde o día” (ênfase acrescentada) em que Satanás foi criado. Obviamente, então, Satanás teve um início; ele não era infinito como Deus é. Portanto, Satanás está, de alguma maneira, preso ao tempo. Outras passagens das Escrituras também revelam o relacionamento de Satanás com o tempo.
Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. (Apocalipse 12:12; ACF, ênfase acrescentada).
Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno. (Lucas 4:13; ARA, ênfase acrescentada).
Como um ser criado, que teve um início, Satanás está preso ao tempo. Ele não é onipresente como Deus é, assim como não é onisciente. Deus anunciou o fim desde o princípio (Isaías 46:10); Satanás não tem essa capacidade.
A Bíblia não dá o momento exato da criação de Satanás e os anjos; contudo, podemos fazer várias deduções das Escrituras em relação a esse momento. Vamos começar examinando Ezequiel 28:11-19; ACF:
11. Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo:
12. Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor Deus: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
13. Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.
14. Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas.
15. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti.
16. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas.
17. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.
18. Pela multidão das tuas iniquidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te veem.
19. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.
Nas passagens anteriores a esta, a palavra do Senhor foi dirigida a Tiro (Ezequiel 27:2) e ao governante de Tiro (Ezequiel 28:2). Começando em Ezequiel 28:11, faz-se um lamento (expressão de tristeza e luto por eventos passados) sobre o rei de Tiro, ou, mais especificamente, aquele que estava influenciando o rei de Tiro. Note bem que o rei de Tiro nunca havia sido um modelo de perfeição (versículo 12), nem havia estado no monte de Deus (versículo 14), nem no Jardim do Éden (versículo 13; note que o Dilúvio havia destruído o Jardim do Éden centenas de anos antes desse período de tempo).
Deus claramente vê a influência de Satanás e se fala diretamente a ele. Em outra ocasião, o Senhor falou à serpente, em Gênesis 3 - em Gênesis 3:14, Deus fala à serpente; em Gênesis 3:15, Deus fala a Satanás, que influenciou a serpente. Jesus repreendeu a Pedro e então falou com Satanás (Marcos 8:33). Em Isaías 14, a passagem se dirige ao rei da Babilônia e, em certas partes, a Satanás, que estava influenciando o rei.
Na passagem de Ezequiel, observamos que Satanás era perfeito em sua origem (sem defeito), desde o dia em que fora criado, até quando pecou (achou-se iniquidade nele). Portanto, podemos deduzir que Satanás foi criado durante a semana da criação; uma vez que era sem defeito, ele estava incluso na proclamação de “muito bom” de Deus (Gênesis 1:31), no final do sexto dia.
Em Jó 38:4-7 (ACF), Deus fala a Jó:
Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina, quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?
Apesar de ser uma passagem poética, ela pode nos mostrar que uma parte da obra criativa de Deus foi testemunhada por anjos, e que estrelas da alva cantaram. Estrelas da alva são um símbolo do exército celestial ou de outros seres angelicais? Isso é possível. Lembre-se que, muitas vezes, estrelas são equiparadas com seres angelicais ou celestiais, e muitos comentaristas sugerem que essa passagem se refere a anjos.
Se esse é o caso, então a criação de anjos se deu antes do terceiro dia, na semana da criação. Em Gênesis 1, Deus criou os fundamentos da terra no primeiro dia (criação da terra), ou no terceiro dia (separação entre a terra seca e as águas). A conclusão lógica é que os anjos foram criados no primeiro dia ou, pelo menos, no terceiro dia.
Se não for assim, então as estrelas físicas (criadas no quarto dia) estavam presentes quando os anjos jubilavam. Se esse for o caso, então estrelas da alva e anjos cantaram e jubilaram depois que as estrelas foram criadas.
É mais provável que estrelas da alva simbolizem o exército celestial. Satanás, que fazia parte do exército celestial, foi chamado de estrela da manhã; consequentemente, Satanás e os anjos foram criados em algum momento anterior ao terceiro dia (ou, logo no início do terceiro dia), possivelmente no primeiro dia.
Satanás pecou quando se deixou vencer pelo orgulho, e caiu da perfeição (Ezequiel 28:15-17). Quando isso ocorreu? A Bíblia não dá uma resposta exata, mas podemos tirar conclusões a partir das Escrituras.
Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. (Isaías 14:12-14; ACF).
Quando pecou, Satanás foi expulso do céu (Isaías 14:12). Isso deve ter ocorrido depois do sexto dia da semana da criação, porque Deus havia dito que tudo era muito bom (Gênesis 1:31). De outra forma, Deus teria chamado a rebelião de Satanás de muito bom. Entretanto, por toda a Escritura, Deus é enfático - o pecado é detestável a Seus olhos.
Deus santificou o sétimo dia. Parece pouco provável que Deus santifique um dia em que uma grande rebelião tenha ocorrido. Em Gênesis 1:28, Deus ordenou a Adão e Eva que fossem frutíferos e se multiplicassem. Caso tivessem esperado muito tempo para ter relações sexuais, eles teriam pecado contra Deus, não sendo frutíferos. Assim, não deve ter sido muito tempo depois do sétimo dia que Satanás tentou a mulher, através da serpente.
O arcebispo Ussher, o grande erudito bíblico do século 17, colocou a queda de Satanás no décimo dia do primeiro ano, que é o Dia da Expiação. O Dia da Expiação parece fazer referência ao primeiro sacrifício, quando Deus fez vestimentas para cobrir Adão e Eva, vestimentas de peles de animais (Gênesis 3:21). Pode ser que as gerações seguintes (de Abel a Noé, a Abraão, aos israelitas) seguiram esse padrão de sacrifício pelos pecados no Dia da Expiação.
De qualquer forma, a queda de Satanás provavelmente aconteceu pouco depois do sétimo dia.
A resposta a esta pergunta está profundamente ligada ao debate da “soberania de Deus vs. responsabilidade humana”, no qual a Igreja tem se envolvido por séculos.
Daquilo que estudamos na Bíblia, podemos dizer que Satanás foi o primeiro a pecar. Ele pecou antes da mulher pecar e antes de Adão pecar. Alguns argumentam que nós pecamos porque Satanás entra em nós e nos leva a pecar, mas a Bíblia não ensina isso. Nós pecamos quer Satanás entre em nós ou não. Satanás estava influenciando a serpente quando a mulher pecou e quando Adão pecou; eles pecaram por vontade própria, e não podiam declarar: “Satanás me fez fazer isso”.
Mas o que causou esse pecado original? O que levou Satanás a pecar?
Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. (Tiago 1:13-15; ACF).
A morte é a punição pelo pecado. O pecado tem sua origem no desejo - o desejo de cada um. Tiago 1:14 indica que o mal tem sua origem em nosso desejo. Foi por causa do seu desejo que Satanás foi dominado pelo orgulho em relação a sua beleza e habilidades.
Na criação original “muito boa”, parece provável que Satanás e a humanidade tinham a capacidade de fazer uma escolha contrita1. No Jardim do Éden, a mulher foi convencida por seu próprio desejo (a árvore era desejável para dar entendimento - Gênesis 3:6). Satanás não havia entrado nela; ela foi seduzida por seu próprio desejo.
Deus não é o autor do pecado, nossos desejos é que são. Deus não iludiu ou enganou Satanás para se tornar cheio de orgulho. Deus odeia o orgulho (Provérbios 8:13), e não é compatível com seu caráter levar alguém a se tornar orgulhoso. Nem foi Deus quem enganou Eva. Engano e mentiras andam de mãos dadas (Salmo 78:36; Provérbios 12:17), contudo Deus não mente nem engana (Tito 1:2; Hebreus 6:18).
Uma vez que os desejos de Satanás causaram seu orgulho, não se pode culpar Deus pelo mal entrar na criação.
Observe que, uma vez que os desejos de Satanás causaram seu orgulho, não se pode culpar Deus pelo mal entrar na criação. Para ser bem claro, isso não significa que Deus não estava ciente de que isso iria acontecer, mas Deus permitiu que acontecesse. Deus é soberano e foi justo ao expulsar Satanás do céu depois que ele se rebelou contra o Criador.
Portanto, quando o Deus encarnado veio para destruir o mal e as obras do diabo (1 João 3:8), ele fez isso como verdadeira obra de amor, não como um jeitinho para corrigir o que Ele havia estragado. Ele foi glorificado em Seu plano de redenção.
Alguns já perguntaram por que Deus não enviou Satanás ao inferno, ao invés de expulsá-lo para a terra, presumindo assim que isso evitaria a morte, o sofrimento ou as maldições sobre a humanidade. Mas Deus é amor, e Seu agir demonstra que Deus foi paciente com o diabo, assim como Deus é paciente conosco. Talvez Satanás tivesse a possibilidade de obter a salvação se não houvesse continuado em sua rebelião e selado seu destino, embora Gênesis 3:15 revele que a cabeça de Satanás seria esmagada (após ter perseverado no pecado e enganado a mulher).
Uma outra pergunta, relacionada a esse assunto, é: a presença de Satanás era necessária a fim de que o homem pecasse? Foi a tentação por parte de Satanás que instigou a mulher a olhar para o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas foi ela que desejou o fruto e pecou. Podemos realmente afirmar, com toda segurança, que em outro dia qualquer, sem Satanás, a mulher e/ou Adão não teria desejado o fruto e pecado? Todavia, nas palavras de Aslan, o leão das Crônicas de Nárnia (de C.S. Lewis), “não existem: E se?”.
Na realidade, nós estamos debaixo da morte e da maldição porque Adão pecou (Gênesis 3), e nós pecamos em Adão (Hebreus 7:9-10) e continuamos a pecar (Romanos 5:12). Adão tem sua culpa, mas nós precisamos arcar com a responsabilidade de nossa culpa em cometer alta traição contra o Criador do universo. É errôneo pensar que a morte e o sofrimento são o resultado da rebelião de Satanás. O homem tinha domínio sobre o mundo, não Satanás. Quando Satanás se rebelou, o mundo não foi amaldiçoado. Quando Adão pecou, a terra foi amaldiçoada, a morte entrou no mundo, e assim por diante. É por isso que precisávamos de um último Adão (1 Coríntios 15:45), e não de uma última Eva ou de um último Satanás. É por isso que Cristo veio. A boa notícia é que, para aqueles que estão em Cristo, a punição pelo pecado (morte) não tem mais nenhum aguilhão (1 Coríntios 15:55).
Assim como com as outras perguntas neste capítulo, grandes teólogos têm tido dificuldades em responder eficientemente a essa pergunta. Paulo, em seu livro aos cristãos em Roma, oferece algumas percepções sobre a perspectiva mais ampla que deveríamos ter:
E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Romanos 8:28; ACF).
Todas as coisas, inclusive o mal neste mundo, têm um propósito. Deus é glorificado por meio do plano de salvação que Ele elaborou desde o princípio. Do primeiro ao Último Adão, Deus planejou um caminho glorioso para redimir um povo para si mesmo, através da promessa de um Salvador que venceria tanto o pecado como a morte.
Jesus foi glorificado quando venceu Satanás, o pecado e a morte através de Sua morte e ressurreição (veja João 7:39, 11:4, 12:23; 1 Pedro 1:21; Atos 3:13). Ambos, Deus o Filho e Deus o Pai, foram glorificados através da ressurreição (veja João 11:4, 13:31-32). Tudo o que acontece é para a glória de Deus, mesmo quando não conseguimos, a partir de nossa perspectiva limitada, perceber como Deus pode ser glorificado.
Aqueles que receberam o dom da vida eterna anseiam pelo momento em que estarão unidos a Deus no céu - um lugar onde não haverá mal algum (Apocalipse 21:27). Esse mundo, maldito há 6.000 anos, é apenas um assovio comparado com a eternidade. Esse tempo relativamente curto na terra, é o único tempo em que o mal é permitido.
Os dias de Satanás estão contados e ele receberá uma condenação eterna.
Por isso alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar; porque o diabo desceu a vós, e tem grande ira, sabendo que já tem pouco tempo. (Apocalipse 12:12; ACF).
E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem. E depois disto importa que seja solto por um pouco de tempo. (Apocalipse 20:3; ACF).
Não deveríamos temer a Satanás ou seus demônios, uma vez que Deus tem poder sobre ele e já decretou qual será o seu fim - uma segunda morte - uma punição eterna, chamada inferno.
Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; (Mateus 25:41; ACF).
E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre. (Apocalipse 20:10; ACF).
E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. (Apocalipse 20:14).
Algumas pessoas podem alegar que preferem “reinar com Satanás no inferno” a ir para o céu e desfrutar da infinita bondade de Deus. Infelizmente, essas pessoas não percebem que Satanás não tem poder algum no inferno, e nem elas terão. Satanás não é o “governante” do inferno, mas sim um prisioneiro, assim como elas serão se não receberem o dom gratuito da vida eterna, arrependendo-se de seus pecados e crendo na obra concluída de Jesus Cristo na cruz.
Esperamos que aqueles que lerem esse livro se dêem conta de que o único caminho de salvação é através do relacionamento pessoal com Jesus Cristo. Deus supriu um caminho de salvação, um relacionamento correto com Ele, e um meio de perdão. Você já recebeu a Cristo como seu Salvador?